A inclusão na JMJ que abraçou “todos, todos, todos”
A inclusão foi um dos carimbos da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023, que marcou pela diferença na história do encontro ao trazer novidades na forma de comunicar com o objetivo de incluir “todos, todos, todos”, como pediu o Papa Francisco. A audiodescrição foi algo inédito na edição realizada em Portugal. “Foi uma grande conquista”, assinalou Filipa Oliveira, Coordenadora da Equipa das Traduções, da Direção de Comunicação, que engloba a Língua Gestual e a relação com os voluntários que tornaram a Jornada percetível à comunidade surda.
Além da audiodescrição, ao longo da semana da JMJ Lisboa 2023, os Eventos Centrais contaram com intérpretes de Língua Gestual Portuguesa (LGP) e de Gesto Internacional, cujas interpretações eram transmitidas nos ecrãs espalhados pelos recintos. Mas o que significa o Gesto Internacional e o que o distingue da Língua Gestual? Segundo Filipa Oliveira, o Gesto Internacional “é um conjunto de gestos que serve para que o máximo de pessoas possível possa compreender aquilo que está a ser dito, mas num gesto que seja facilmente compreensível. E daí não ser uma língua, porque não tem o mesmo código, não tem as mesmas regras que uma Língua Gestual”. Assim como existem várias línguas gestuais, que traduzem palavras através de gestos diferentes, o Gesto Internacional acabou por ser a solução para tornar a comunicação mais acessível a pessoas de diferentes países.
No que respeita à Língua Gestual Portuguesa, tarefa levada a cabo pela equipa do Santuário de Fátima, os intérpretes criaram um grupo de WhatsApp, no qual andavam sempre a “trocar” e a “criar gestos” para ver a melhor forma de interpretar, devido a ser “um trabalho muito exigente”, contou Filipa. “Nos minutos antes das cerimónias ou dos eventos via-se a filmarem-se, a corrigirem-se a eles próprios para poderem também prestarem o melhor serviço possível”, acrescentou, destacando também que “a preocupação de ser liturgicamente competente e de transmitirem da forma mais correta possível”, é uma característica dos intérpretes do Santuário de Fátima.
A grande novidade do encontro, a audiodescrição, apenas em português, ficou à responsabilidade da Accessible, da professora Josélia Neves, que surgiu da “preocupação de mostrar àqueles que não podem ver", aquilo que está a ser visto e o que “está a ser feito”, esclareceu Filipa Oliveira. As transmissões foram realizadas através do sinal de rádio, tal como estavam a ser feitas as outras transmissões das traduções nas cinco línguas oficiais do encontro. As audiodescrições tinham início cerca de 30 minutos antes dos eventos. Os intérpretes começavam por “descrever o ambiente”, como é que estava o palco, e houve até a preocupação de perceber de que materiais é que eram feitos os paramentos, revelou Filipa. “A audiodescrição nunca se sobrepõe a nada nem a ninguém, ou seja, se está a ser cantado, se está a ser dito algo, não há uma sobreposição de informação”, destacou ainda. Este é um serviço que pretende dar “algo mais” e não “substituir”, sendo esse o motivo de os audiodescritores terem começado as suas funções mais cedo.
De forma a tornarem a comunicação ainda mais inclusiva, as orações foram também adaptadas para todos aqueles com incapacidades mentais, que não conseguem compreender tudo aquilo que é dito. À entrada dos eventos, havia também “planos táteis” e “orações em braile” para serem distribuídas.
Para Filipa Oliveira, a JMJ Lisboa 2023 deixou impacto positivo no que diz respeito à inclusão e espera que a integração da audiodescrição no encontro seja “o abrir de portas para outras jornadas”.